Monção - "São Jorge venceu o dragão e ainda levou a princesa"
Ninguém sabia ainda onde morava a Coca, o temível dragão que todos os anos enfrenta São Jorge na vila de Monção;
a temível fera abriga-se nas instalações do caminho de ferro adquiridas pela Câmara Municipal monçanense depois de a vila ter perdido o serviço ferroviário há mais de uma década. O terrível combate das Festas do Corpo de Deus (19 de Junho) decorre num anfiteatro em terra batida construído em paralelo ao troço que chegou a ser aberto até São Gregório. A Melgaço e aos Arcos de Valdevez o comboio nunca havia de chegar...
Monção.

"AS FESTAS DO CORPO DE DEUS ENCHERAM CAMPO DO SOUTO - paralelo ao antigo caminho de ferro que de Melgaço que foi construído até São Gregório - COM MAIS DE CINCO MIL FORASTEIROS MORTE DA COCA SIGNIFICA UM BOM ANO DE COLHEITAS PARA OS LAVRADORES DA REGIÃO

""É a primeira vez que o cavaleiro salva a princesa", conta António Salgado, responsável pelo combate entre S. Jorge e a Coca, que se realiza anualmente em Monção, no Dia do Corpo de Deus, e que, desta vez, incluiu um espectáculo medieval, "para completar a lenda, que até aqui se resumia ao combate", acrescentou.

Conta a lenda que "S. Jorge, acudindo ao apelo angustiado de uma jovem princesa, filha do rei da Líbia, mata com a sua lança o dragão que a queria devorar". Este ano, no segundo dia de festas na vila alto-minhota, a lenda foi seguida com mais rigor e o combate entre o cavaleiro e o dragão, simbolizando a luta entre o bem e o mal, foi precedido por torneios de armas e pela encenação da ameaça da Coca à princesa.

Um espectáculo com muita animação, que também incluiu a actuação de saltimbancos, do grupo de teatro de Sobral de Ceira e de um coro masculino a três vozes, de Aveiro, que fizeram as delícias de uma assistência de quase cinco mil pessoas.

Na altura do combate, e depois de eleito o cavaleiro mais valente, S.Jorge, "abençoado pelos cantos gregorianos", recebeu a lança das mãos do presidente da Câmara para desafiar a Coca, que durante o dia tinha desfilado pelas ruas de Monção. Durante o combate, o destemido cavaleiro tenta "espetar a lança nas goelas da Coca", que gira a cabeça. Mas a Coca só será dada por vencida se, depois do primeiro golpe, a espada do cavaleiro lhe cortar as duas orelhas, retirando-lhe a força.

Ontem, S.Jorge saiu mais uma vez vitorioso, o que, de acordo com as crenças populares, significa que este será um bom ano agrícola.

No Campo do Souto, palco privilegiado para o combate, esteve uma comitiva de Redondela, Galiza, localidade germinada desde 1989 com Monção, onde existe uma tradição idêntica. "O programa das festas é conjunto entre as duas localidades, com o que reanimamos ageminação, porque é uma forma de fazermos encontrar a nossa história e cultura, porque a tradição faz parte das nossas raízes", referiu José Emílio Moreira, presidente da Câmara.

"Este é um espectáculo muito bonito, diferente do de Redondela, onde já não se realiza o combate e onde a Coca simplesmente passeia pelas ruas e se faz a dança das espadas", disse Xaime Rey, alcaide da localidade galega.
Raquel de Melo in Jornal de Notícias de 20 de Junho de 2003.