Perspectivas> Bernardino Vasconcelos, presidente da Câmara Municipal da Trofa | ||||||
Versão não-ilustrada de 13 de Setembro de 2003. O texto a seguir apresentado foi recebido no âmbito do convite formulado pelo Comboio.em.pt a vários autarcas do Minho cujos municípios são servidos pelo Caminho de Ferro. | ||||||
Bernardino Vasconcelos (Dr.), O caminho de ferro chegou à Trofa, pela primeira vez, a 20 de Maio de 1875, com a inauguração da 18 fase da linha do Minho (Porto Valença) que, então, compreendeu o trajecto entre a estação do Pinheiro (Campanhã Porto) e a cidade de Braga. Presidiram à inauguração el rei D. Luís e a rainha D. Maria Pia, acompanhado por autoridades civis, militares e consulares. O comboio inaugural, puxado pela máquina "Porto" a primeira a circular na nova linha e na circunstância solenemente benzida pelo bispo do Porto partiu da estação do Pinheiro (Campanhã) pelas 11,15 horas, engalanado com as armas portuguesas e as bandeiras de Portugal e Itália. Às estações de passagem, que então também se inauguravam, acudiram as gentes das redondezas a saudar vibrantemente os monarcas, o que naturalmente aconteceu na Trofa, onde uma banda de música deu animação à festa. Dia festivo e histórico foi esse, pois, pelo singularidade e brilhantismo do cerimonial mas, sobretudo, pelo relevante papel que o comboio, como inovador meio de comunicação e transporte, veio a representar para o noroeste do País, designadamente para a Trofa. Mas outros dias festivos e de similar relevância para o seu progresso conheceu a Trofa no âmbito ferroviário. Assim, a 31 de Dezembro de 1883, foi inaugurado o primeiro troço entre a Trofa e Vizela, da chamada linha de Guimarães, via que teve mais duas fases no seu prolongamento até Fafe, para terminar com a construção do trajecto entre a Senhora da Hora e Trofa, a 14 de Fevereiro de 1932, e do ramal da Boavista à Trindade ( no Porto) a 30 de Outubro de 1938. Beneficiando duma privilegiada posição nesta "rede" que permitia o transbordo de pessoas e mercadorias entre as duas linhas de bitolas diferentes (bitola larga, a linha do Minho; de bitola estreita, a de Guimarães), a estação da Trofa adquiriu particular relevo no esquema ferroviário do País e contribuiu decisivamente para o desenvolvimento sócio económico local. Efectivamente, dispensados os cursos de água como força motriz, graças à utilização das caldeiras de vapor e da electricidade como fontes de energia que permitiram a industrialização moderna, ao derredor da estação do caminho de ferro se foram fixando unidades várias duma indústria diversificada de chapelaria, tecelagem, serração de madeiras, máquinas agrícolas e moagem de cereais que procuravam a proximidade do comboio para mais facilmente poderem fazer o escoamento dos seus produtos para as diversas regiões do País e até para o estrangeiro (exportação através do porto de Leixões). A partir da estação ferroviária, se foi igualmente estendendo o aglomerado habitacional, já que a Trofa se transformava em centro polarizador de gente vinda de fora e deixava de ser "terra de passagem", como vinha acontecendo desde os tempos da romanização, em que a estrada romana que ligava Lisboa, Cale, Braga e Astorga atravessava de lés a lés o território que hoje constitui o espaço concelhio, deixando por aqui disseminados diversos marcos milenários.
Com a progressiva melhoria das comunicações rodoviárias e consequente declínio do transporte ferroviário, nem por isso a Trofa se ressentiu, já que, beneficiando da proximidade à cidade do Porto e Leixões, se situava estrategicamente no cruzamento das EN 14 (Porto Braga) e 104 (Guimarães Vila do Conde) e continuava assim a ser espaço apetecido para a instalação de indústrias agora de metalurgia, máquinas para trabalhar madeira, metalomecânica, electrónica e ferramentas de precisão particularmente orientadas para a exportação. Mas se estes meios de comunicação rodo ferroviários foram verdadeiramente excepcionais e potenciaram o espírito empreendedor dos Trofenses, de nascimento ou por adopção, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento da Trofa, com o passar dos tempos vieram a tornar se constrangedores e inadequados à satisfação das exigências duma vida moderna com qualidade. Mas ventos de mudança sopram hoje, felizmente. Com a elevação da Trofa a concelho e um executivo camarário democraticamente eleito, após um período de instalação dos serviços indispensáveis a uma vida autárquica em autonomia, estão em curso trabalhos de ordenamento do território (PDM) e de requalificação de espaços urbanos que darão à cidade e ao concelho fisionomia de modernidade, pondo cobro à interrelação negativa existente entre o tecido urbano e industrial que, por falta de adequado planeamento, vinha afectando a qualidade de vida dos munícipes. Concomitantemente, e no que particularmente respeita a acessibilidades e vias de comunicação rodo ferroviárias, uma promissora "revolução" está em curso. Para as EN 14 (Porto Braga) e 104 (Guimarães Vila do Conde) projectam se duas variantes que, passando respectivamente a ocidente e a sul, libertarão a cidade do intenso tráfego automóvel actual, que martiriza os residentes mas também quem por aqui tenha de passar. Na linha do Minho decorrem, por seu turno, trabalhos de modernização, visando a sua duplicação e electrificação, no sentido de lhe potenciar a sua vocação internacional, como ligação à Galiza, e de conferir ao comboio características de meio de transporte de longo alcance com condições de competitividade, em termos de comodidade, rapidez e segurança. Com a referida modernização espera se que também a Trofa beneficiará, proporcionando lhe uma integração a corpo inteiro na micro região europeia que o noroeste peninsular constitui, ao mesmo tempo que, para o seu atravessamento da cidade, a linha passará a utilizar um novo corredor, em boa parte em túnel, deixando de afectar o "coração da cidade" e dando origem a uma nova centralidade de desenvolvimento urbano, a uma estação moderna e conglobando um interface de diversos meios de transporte: rodo ferroviários e metropolitano do Porto. Quanto a este, espera se que chegue à Trofa em 2006, utilizando o corredor disponível resultante da desactivação da linha de Guimarães, entre a Trofa e Senhora da Hora. A actual estação de caminho de ferro, para além da sua futura utilização como estação do metropolitano, será objecto de musealização, para que entre os Trofenses se preserve a memória do muito que o desenvolvimento e progresso da Trofa deve ao comboio. Entretanto, com o projecto de modernização da linha do Minho e da reformulação do seu traçado dentro do perímetro da cidade, já assumido pela Administração Central e pela Refer, a Trofa vê com satisfação assegurados os seus legítimos interesses e fica com a certeza de que, para ela, o comboio não será um agressor mas um amigo. O Presidente da Câmara Municipal. Dr. Bernardino Vasconcelos (original segue assinado e datado de 11 de Setembro de 2003) |
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