Perspectivas> José Manuel Vaz Carpinteira, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira | |||||
Versão não-ilustrada de 02 de Julho de 2003. O texto a seguir apresentado foi recebido no âmbito do convite formulado pelo Comboio.em.pt a vários autarcas do Minho cujos municípios são servidos pelo Caminho de Ferro. | |||||
José Manuel Vaz Carpinteira, Ao longo da História vão sendo desenvolvidos determinados progressos que registam a capacidade de transformação do homem. É precisamente pela inovação, capacidade criativa e transformação que o homem se distingue dos demais. Neste sentido, a invenção dos Caminhos-de-ferro teve na sua origem a criação da primeira roda. Não será demais defender que a evolução humana se encarregou do resto. O comboio surge num contexto específico da revolução industrial -, com finalidades várias no domínio político, económico e social. Evidentemente, transportar pessoas e bens. Com a introdução dos comboios toda a cartografia foi alterada e novos aglomerados, quer industriais como populacionais, foram concentrados nestes espaços. As redes viárias só por si, não tiveram o impacto proporcionado pelos Caminho-de-ferro. Em Portugal, a rede de Caminhos-de-ferro foi mais tardia, evidentemente influenciada pelo desenvolvimento industrial dos meados do século XIX. Ainda assim, com um progresso condicionado pelas dificuldades estruturais de um país periférico, cedo se foi disseminando, assumindo as proporcionais que conhecemos hoje. Apesar dos condicionalismos existentes, deve ser referida a perspectiva teleológica dos traçados para a rede, cujo objectivo consistiu no desenvolvimento do país. A construção da linha do Minho, por exemplo, está inquestionavelmente associada às outras vias-férreas a norte do Rio Douro. Ainda assim, a sua construção assumiu uma preponderância específica, tendo em conta que para além do transporte de mercadorias e de pessoas, pretendia também, acelerar o progresso do país através das comunicações a serem estabelecidas com a Europa. Neste cenário desenvolvimentista, o concelho de Vila Nova de Cerveira foi atravessado pelo primeiro comboio no ano de 1888. Apesar de ter sido iniciada em 1873, surgiram um conjunto de contratempos que vieram a atrasar o seu processo. Este desfasamento parece estar associado ao desequilíbrio entre os trabalhos desenvolvidos na linha do Minho e os da linha do Douro, cujas direcções foram distintas até ao ano de 1877. Ao nível do enquadramento urbanístico, a localização da estação na Sede do Conselho teve, no passado, uma posição relativamente periférica ao núcleo urbano. Contudo, dada a relevência dos transportes ferroviários, esta situação foi alterada com a construção de uma ligação viária directa ao centro da vila e de um Centro Coordenador de Transportes, permitindo, deste modo, uma maior eficácia ao “interface” previsto. Segundo J. Marques Rocha, na monografia de “Vila Nova de Cerveira”(1994),” nos seus últimos 138 Km, a linha do Minho é de via simples e não electrificada. Os investimentos efectuados pela CP, na área do Alto Minho, nunca visaram transformar o comboio num veículo rápido, seguro e capaz de acompanhar os progressos ferroviários europeus.” Evidentemente, que tal facto se deve ao fraco desenvolvimento industrial do Alto Minho no século XIX e inícios do século XX, que promovia o êxodo rural e a emigração para os países desenvolvidos da Europa. Para além da estação na freguesia de Lovelhe, Loivo e Campos. Existindo, por dia, seis ligações regionais, duas inter-regionais e quatro internacionais durante a semana e, aos fins-de-semana, quatro regionais, uma inter-regional e duas internacionais. Tal como podemos verificar existiu, desde sempre, um carácter claramente regional, com paragens em todos os locais, tratando-se, como tal, de uma ligação mais inter-urbana do que internacional do longo curso. Mais terá sido esta linha grande potenciadora de tráfego local, de relações com outras localidades e dinamizadora do estreitamento de localidades que, pela falta de meios de transporte alternativos, recorriam ao comboio. A importância dos Caminhos-de-ferro não pode, deste modo, ser afastada do contexto de desenvolvimento local. Porém, as inovações tecnológicas produzidas desde os anos 80 e 90 do século passado criaram um ritmo de transformação com a constante inovação nas alternativas de transporte. Em Vila Nova de Cerveira, por exemplo, assistimos à crescente utilização de automóveis particulares. Social e economicamente as famílias portuguesas ganharam “ poder de compra”, proporcionado pela melhoria das condições de vida e pelo desenvolvimento dos diferentes sectores do concelho. A emigração foi controlada, possuímos uma população fixa mais estável e, por outro lado, um conjunto de residentes externos com habitações no concelho, oriundos dos grandes centros urbanos que escolheram o concelho ao nível da qualidade de vida. Este novo cenário produziu directamente efeitos na utilização dos comboios como meio de transporte, ou seja, deixou de ser visto como um bem principal para se secundário. Todavia, a questão que reside é a justificação para a decrescente utilização dos comboios. Evidentemente que a sociedade moderna exige novos desafios tecnológicos. À semelhança dos automóveis, também os Caminhos-de-ferro devem ter a preocupação em acompanhar os avanços e as tendências modernas. Na verdade, considero que em pleno século XXI se colocam três grandes desafios para os Comboios e para os Caminhos-de-ferro. Em primeiro lugar, ao entrar na lógica da concorrência e da transnacionalização, os próprios Caminhos-de-ferro, e a linha do Minho em especial, devem perder o seu carácter exclusivamente inter-urbano e regional, ganhando um carácter mais transnacional sem o recurso ao TGV. A aposta numa linha para os comboios rápidos viria beneficiar o tráfego de pessoas entre os grandes centros urbanos, permitindo, desta forma, que núcleos de menores dimensões adquirissem uma maior centralidade dentro da sua condição geográfica. Em segundo, e imprescindível para uma nova dinâmica, deveria haver uma maior aposta nos horários dos comboios, substituindo os actuais, uma vez que não correspondem às necessidades reais dos passageiros, mas que estão condicionados pelos horários dos grandes centros: Porto/ Braga e Vigo. Por fim, e em consequência dos anteriores, o desenvolvimento do turismo implica, também, um conjunto de recursos em que os Caminhos-de-ferro podem ser um transporte alternativo. Para esse efeito, é necessário que estejam minimamente preparados. Em suma, o transporte ferroviário dispõe de características específicas que devem ser aproveitadas. No caso de Vila Nova de Cerveira, o facto de proporcionar um trajecto de grande beleza paisagística pela proximidade do rio Minho, de possibilidades de ligação rápida aos principais centros urbanos e portuários (Porto, Viana e Vigo) e do transporte de alunos para a Escola Tecnológica e Artística e Escola Superior Gallaecia, poderão ser perspectivados como vectores para o potenciamento do Caminho-de-ferro já existente no Conselho. O Presidente da Câmara Municipal. José Manual Vaz Carpinteira *título da nossa responsabilidade |
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